Há dias assim...

Nem sequer a vi a aproximar-se. Mas também... era difícil. Veio tão rápido! ao principio tudo parecia normal. Levantei-me, ao som dos camiões que trazem a mercadoria para os restaurantes da Lygon St, olhei para o tlm... marcava as 7:40h. Mais uns segundos na cama? Nã... peguei na minha toalha e fui para a casa de banho. Silêncio... Não se ouvia ninguém. A Liz não está em casa. A Asuka está a dormir. O João ainda não veio do trabalho. Eu fui tomar um duche. Abri a torneira. A água jorrou com força e quase imediatamente aqueceu ao ponto de ferver. Estes sistemas eléctricos de aquecer a água são óptimos. Queimou-me nas mãos. Abri em seguida a torneira da água fria. Estava óptima. Deixei-me envolver por aquele jacto de água morna. Sabe tão bem de manhã! Limpei-me e sequei-me, ainda dentro do duche para não molhar o chão da Casa-de-banho, e saí. Saí do duche, saí da casa-de-banho e por uns momentos saí daqui. Daqui de Melbourne. Daqui da Austrália. E caí naquele buraco onde tantas vezes tememos ficar e não conseguir sair. Aquele que a traz com violência até nós. E ela veio. E com força. A saudade.

Por uns segundos, se calhar até menos que isso, caiu tudo em cima de mim e com a força de uma bomba de hidrogénio. Senti-me sufocar, só queria poder gritar, mas estava completamente afónico e também... gritar a quem? Contive as lágrimas. Não por achar que não e de homem, mas sim por saber que cada lágrima derramada iria cavar ainda mais fundo o buraco onde estava, e iria atrair ainda mais a saudade. Pensei em tudo. Pensei em todos. No que fiz, nas minhas escolhas, quem deixei para trás e, não sei se alto se só murmurando disse: "O que eu tenho até agora/foi aquilo que vivi/ foi fazer o que sabia/ com aquilo que escolhi". Que parvoíce... Xutos e pontapés numa altura destas? Não sei porquê, mas foi esta estrofe que me veio à cabeça. E... Tão depressa como atacou... foi-se. Estava fora do buraco. Estava leve. Estava á porta da casa-de-banho. Estava aqui.

Vesti-me. Fui preparar o pequeno-almoço e recebo uma chamada da minha mãe. (e ainda dizem que as mães não sentem quando são precisas!!) Não importa sobre o que era (se bem que fica bem dizer que ela se lamentou do meu Belenenses lhe ter ganho por 1-0), o que importa é que era a mãe! E ao chegar ao trabalho, a tia :). Um email que me deu força.

Há dias assim... em que vindos do nada certos sentimentos parecem tomar conta de nós e abafar a nossa singela existência, fazendo-nos sentir o quão insignificantes somos sem aqueles que amamos. Mas há pessoas assim. Que sem saber, estão lá quando são precisas. E nos fazem sentir muito bem por termos feito o que fizémos, por termos seguido o que sonhámos, por estarmos a fazer o melhor que sabemos com aquilo que escolhemos.

A vida é apenas um interlúdio entre a não existência e a extinção da mesma... sim é. Mas nesse interlúdio temos de nos divertir, de viver, de usufruir e acima de tudo de tentar sempre ao máximo fazer o que sonhámos e sermos felizes junto daqueles que amamos (bastando para isso traze-los sempre no coração).